segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A construção bíblica do dragão do apocalipse.

Apocalipse 12:3
       E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas.
                                                                             
         Quanto à identidade do dragão a bíblia não deixa dúvidas. O dragão não é ninguém mais que o diabo.

        E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. Apocalipse 12:9

         Porém muitos ainda estranham esse símbolo bíblico. Muitos pesam que essa figura é exclusiva do livro do apocalipse. Mas essa figura aparece também nos livros de salmos, no livro de Jô, no livro de Isaias e antigas escrituras das primeiras civilizações, como a babilônia. É objetivo desse pequeno artigo explicar a construção bíblica dessa figura. Mostrar que ela já é figura conhecida nas páginas do Antigo testamento e que os primeiros leitores do livro do apocalipse não tiveram dificuldade em entender essa figura como nós temos hoje em dia.

É bem provável que o dragão como descrito no livro do apocalipse seja uma referência direta a Tiamat a deusa babilônica da criação, das águas turbulentas e do caos e que segundo o mito babilônico tinha a forma de um dragão. Como podemos ver, o livro do apocalipse faz diversas referências a babilônia. Babilônia é a figura da sociedade moralmente corrompida e idólatra dos dias do apóstolo João. Talvez essa figura, Tiamat, tenha se tornado conhecida e dos Judeus durante o cativeiro babilonico. 

Representação Marduque x Tiamat

Essa mitologia babilônica deve ter sido generalizada pelos judeus e associada a outra figura agora advinda da mitologia cananeia, o leviatã. Como Vemos no salmo 74, salmo do período pós cativeiro que descreve e lamenta a destruição do santo templo em Jerusalém pelo exército babilônico, as figura de Tiamat e do leviatã são propositalmente confundidas pelo salmista e relegadas a mitos. Mostrando a superioridade do Senhor sobre esses falsos deuses.
Vejam o que está escrito no livro dos salmos:

       Tu dividiste o mar pela tua força; quebrantaste a cabeça dos monstros das águas.
Fizeste em pedaços as cabeças do leviatã, e o deste por mantimento aos habitantes do deserto.
(salmo 74.13,14 Almeida revista e corrigida 1995)

        Na versão revista e atualizada a palavra monstro e substituída por crocodilo.  E na versão Almeida fiel é substituída por baleia. Mas a maioria das versões trás o termo leviatã. Para quem desconhece o leviatã era um monstro da mitologia Cananéia equivalente ao kraken da mitologia nórdica. Também é chamado de dragão na versão católica tradicional. Segundo a mitologia Cananéia o leviatã era uma fera marinha que destruía as embarcações e possuía varia cabeças. Lembrando que leviatã é um termo moderno na verdade a palavra no original é outra mas por associação as traduções modernas usam esse termo.

         Isaias também fala do leviatã em sua profecia:

Isaías 27:1
1 NAQUELE dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar.

Observação: a palavra leviatã ocorre cerca de 20 vezes no antigo testamento, porém nem sempre trás a idéia do monstro mitológico. Às vezes esse termo é usado para designar animais de grande porte como no salmo 104 que sugere a idéia de uma baleia.

Ali andam os navios; e o leviatã que formaste para nele folgar. Salmos 104.26

       No livro do apocalipse satanás é representado através desse mito que foi tão usado e ridicularizado nas canções (salmos) e nas profecias do povo de Israel quando estabeleceram sua nação nas terras outrora pertencentes aos cananeus.  Logo o dragão nesse caso é estereótipo de algo que foi derrotado ou será derrotado por Deus. Quando relacionado a babilônia também traz a ideia de uma figura advinda da idolatria. Vemos que as figuras mitológicas que eram adoradas tanto por cananeus como babilônicos era uma forma de satanás desviar a adoração do verdadeiro Deus para si próprio.

 Assim, como tentamos mostrar nesse artigo, a figura do dragão como é descrita pelo apóstolo João no livro do apocalipse não é uma figura aleatória, Mas uma figura que estava associada a idolatria do povo cananeu e do povo babilônico e era bem conhecida nas páginas do antigo testamento, não sendo nenhuma novidade para os primeiros leitores do livro do apocalipse que também viviam em um ambiente altamente idolatra. A figura do dragão em si é uma crítica a adoração a falsos deuses e a toda cultura mitológica pagã.